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escolha um trabalho que você ame e̶ ̶n̶ã̶o̶ ̶t̶e̶r̶á̶s̶ ̶q̶u̶e̶ ̶t̶r̶a̶b̶a̶l̶h̶a̶r̶ ̶u̶m̶ ̶ú̶n̶i̶c̶o̶ ̶d̶i̶a̶ ̶d̶a̶ ̶s̶u̶a̶ ̶v̶i̶d̶a̶ e trabalhe feito um doido.


escolha um trabalho que você ame e se pegue monotemático, dos pensamentos às conversas, num dois pra lá dois pra cá entre o orgulho e a frustração, ambos desvairados. se deixe acordar por fantasmas que te chamam no meio do dia e da noite e que a sociedade apelidou de "boletos por pagar". carinhosamente. se deixe cair em abismos. se permita se aceitar grande, se aceitar burro, se aceitar ambicioso, mas nunca desonesto com seu talento e as suas verdades.


escolha um trabalho que você ame e perca a noção do que quer dizer "horário comercial". se entregue desde às manhãs e até nas madrugadas em todas as variações que um relógio pode girar nesta e em outras galáxias. ou nos ponteiros derretidos que Dalí pintou naquele quadro, porque no fim é meio derretido mesmo que você se sente de tanto se entregar.


é de derreter, mas é lindo. juro.



quando você conhecer uma fotógrafa, por favor, não lembre de mim se ela não te contar histórias de envolvimento e de transformação pelo seu próprio trabalho. se ela não alterar a voz e o ritmo pra falar com empolgação e orgulho das fotos que ela entrega e das experiências que ela vive quando empresta seus próprios olhos pra alguém, por favor, não lembre de mim.


não lembre de mim quando você conhecer uma fotógrafa e ela não falar de feminismo. se ela diminuir as necessidades das próprias clientes e ignorar as camadas que atravessam a subjetividade do universo que uma mulher ostenta, por favor, finge que não me conhece, tá? vai continuar tudo bem entre a gente, eu juro.


juro mesmo. juro juradinho — não vou me ofender.


o que me ofende é o raso. o automático. a conversa de salão. os comandos decorados demais pra se permitir envolver. as regras engessadas demais para permitir o voo. as poses clichezudas demais para te permitirem ser você.


se você conhecer uma fotógrafa e ela não tiver ouvidos muito mais apurados até que os olhos, por favor, não lembre de mim.


fotografar é ver pelo outro, se emprestar, ouvir e devolver. fazer do agora uma máquina do tempo.


clique.


não quero mais saber da fotografia que não é revolução.


sonho, desejo, limite, medo, vontade, fome: o que é essa sensação aí dentro?


uma minhoquinha fazendo ginastiquinha bem ali dentro do seu peito, sabe? ansiedade disfarçada de insônia. insegurança disfarçada de dor de barriga. imagens de um caleidoscópio que se desenha com o que te foi emprestado pelas pessoas com quem você conviveu até hoje. as pessoas e o que elas veem — pelos olhos delas, os valores delas. o que ficou pregado em você das experiências que você viveu? quem você era antes do que elas fizeram você ser? quem você quer continuar sendo?


é preciso se fazer as perguntas certas. é preciso olhar no fundo dos olhos daquilo que te ensinaram que não era pra você e, então, entender: “Faz o que tu queres, pois é tudo da lei!”.


lembra.

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